quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Dizer pra ele...

... que ele não era seu universo, nem a maior parte dele. Que não precisava se sentir portador de um tesouro, sufocado por atenções excessivas ou amado demais, ou falar que ele não lhe fazia um favor, ao contrário, ela o proporcionava muito mais do que ele merecia ou sonhava merecer. Mas apenas abria a boca e, em vez das mentiras planejadas e ensaiadas, o que saía era um suspiro quase silêncioso. Brisa leve e efêmera. Respirar fundo, pensar se é isso o que ela realmente quer dizer. Quero dizer, ele era de fato seu universo, inteirinho, sabia disso. E se comportava como se soubesse disso. E a tratava demonstrando que estava certo disso. Ele então tinha medo de perdê-la. Colocar uma cereja, afogá-las com Martini. Arrepender-se de todas as juras de amor, de todas as poesias escritas e copiadas e enviadas e declamadas e dizer para ele que, se quisesse, poderia partir. E que, se partisse, não faria tanta falta, não provocaria nem sequer uma lágrima. “Eu supero, não vou morrer”. Quanta mentira amontoada sobre a mesma cabeça insegura. Os dois sabiam que ela era completamente dependente, excessivamente apaixonada, absolutamente perdida de amores. Ele, não se permitia envolver. Ela, mergulhada na insegurança gerada pela entrega total e sem medos. Ela toda dele. Ele de ninguém. Ela toda amor. Ele, no final das contas, todo medo de amar. No final das contas o medo era dele, o medo era ele. Então, não dizer nada. Beber mais um gole, comer a cereja e deixar-se levar.

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